sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Lamento Sertanejo...


Cavalo, Litogravura, 2012.

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

Lamento Sertanejo - Dominguinhos

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Por que?

Luz e Movimento, Hortolândia, 2014.


A respeito de tudo que tem acontecido comigo nos últimos dias, tenho tentado organizar meus pensamentos, por isso tem sido tão difícil escrever. São muitos os questionamentos sobre o porque de algumas coisas simplesmente não acontecerem se tudo colabora para que aconteçam... Uma conquista acompanhada de um grande desafio se levantaram pra mim, eu sabia que estava capacitada para encarar  o desafio, utilizei todos os meus conhecimentos, armas e estratégias, fui ao extremo das minhas forças, mas todo resultado que consegui foi tão misero e pequeno que o próximo pensamento foi desistir.
Mas se não posso fazer o que fui capacitada para fazer, então onde estou errando? Eu não entendo, me perguntei por semanas e continuei tentando. Ciente que Deus sabe quantos fios de cabelo temos e quantos são os nossos dias na Terra, resolvi num dia muito frustrante buscar a palavra de Dele. 
Em tudo que acontece Ele se mostra para nós. Parece clichê mas vivemos em um constante aprendizado e ainda sim morreremos sem saber a resposta das perguntas que mais nos atormentam. Atualmente não frequento nenhuma igreja, leio um versículo todas as manhãs e faço uma oração. Não encontrei as respostas para os questionamentos, mas encontrei descanso, uma paz que há muito não sentia.O desafio tem sido desmembrado um pouquinho de cada vez, comemorando cada pequena conquista. Só sei que quando estou triste e canto um louvor algo se move em mim, sei ainda que quando trato alguém com amor e não sou correspondida, não sou a única, o Senhor está comigo nesta jornada, afinal quantas vezes Ele olhou por mim e me tratou com amor e eu nem sequer agradeci? Incontáveis... Quando meu coração fica apertado e parece que eu diminui muitas vezes de tamanho, direciono meus pensamentos ao meu criador que pensou em cada fio de cabelo meu e sabe quantos serão os meus dias.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Homenagem a Van Gogh

Paisagem com ciprestes (releitura de Van Gogh), desenho (lápis de cor sobre papel), 2014.

Van Gogh (trechos de “Cartas a Theo”):

 “A partir do momento que nos esforcemos em viver sinceramente, tudo irá bem, mesmo que tenhamos inevitavelmente que passar por aflições sinceras e verdadeiras desilusões; cometeremos provavelmente também pesados erros e cumpriremos más ações, mas é verdade que é preferível ter o espirito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente. É bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito. Se só pudéssemos dizer umas poucas palavras, mas que tivessem um sentido, seria melhor que pronunciar muitas que não fossem mais que sons vazios, e que poderiam ser pronunciadas com tanto mais facilidade, quanto menos utilidade tivessem. Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade é digno de amor, e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes, nulas e insípidas, obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes.
(...)
Independente de qualquer revolução violenta, também haverá uma revolução íntima e secreta nas pessoas, da qual ressurgirá uma nova religião, ou melhor, algo totalmente novo, que não terá nome, mas que terá o mesmo efeito de consolar, de tornar a vida possível...
Não é a emoção, a sinceridade do sentimento da natureza, que nos impele? E se essas emoções são às vezes tão fortes que trabalhamos sem sentir que estamos trabalhando, quando às vezes o toque vem numa sequência e relacionados entre si como as palavras de um discurso ou de uma carta, é preciso lembrar-se então que nem sempre foi assim, e que no futuro haverá muitos dias pesados, sem inspiração.
O que sou eu nos olhos da maioria – uma nulidade ou um homem excêntrico ou desagradável – alguém que não tem uma situação na sociedade e que não terá; enfim, um pouco menos que nada. Bom suponha que seja exatamente assim, então eu gostaria de mostrar por minha obra o que existe no coração de tal ‘excêntrico’, de tal nulidade. Esta é a minha ambição. Ainda que frequentemente eu esteja na miséria há, contudo, em mim, uma harmonia e uma música calma e pura. Na mais pobre casinha, no mais sórdido cantinho, vejo quadros e desenhos. E meu espirito vai nesta direção por um impulso irresistível. Não é tanto a língua dos pintores, mas a língua da natureza que é preciso dar ouvidos. Sentir as coisas, a realidade, é mais importante que sentir os quadros. Porque tenho da arte e da própria vida, de quem a arte é essência, um sentimento tão vasto e tão amplo, que acho irritante e falso quando vejo pessoas posando de acadêmicos. Em todo caso, se as pessoas acham bom ou ruim o que faço e como faço, de minha parte eu não vejo outro partido a tomar além de lutar com a natureza por tanto tempo quanto necessário porquanto ela me confiar seus segredos.”

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Expectativas e Frustrações

Ubatuba, Fotografia, 2014.


Expectativa segundo o dicionário: "1 Situação de quem espera uma probabilidade ou uma realização em tempo anunciado ou conhecido. 2 Esperança, baseada em supostos direitos, probabilidades ou promessas. 3 Estado de quem espera um bem que se deseja e cuja realização se julga provável. 4 Probabilidade. E. de direito:possibilidade de alguém obter vantagens ainda não definidas. E. de vida: número de anos, baseado na probabilidade estatística, que qualquer pessoa, de idade ou classe dadas, pode esperar de viver." 
É muito mais difícil lidar com uma frustração. Quando em momentos próximos somos frustrados e surpresos positivamente é a frustração que fica na nossa mente por mais tempo, diante de um não e um sim, a alegria do sim dura bem menos que a indignação pelo não.
Talvez nosso grande mal seja esquecer ou ignorar que mais cedo ou mais tarde todos nos decepcionam, planejar com base em expectativas. Esquecer que a perfeição é subjetiva, o natural é subjetivo, o ideal é subjetivo, o monótono é subjetivo e o subjetivo é pessoal, é individual e é intransponível. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Breves instantes

Luz e Movimento, Hortolândia, Fotografia, 2014.

"...o drama do desiludido que se atirou do décimo andar, e a medida que caía ia vendo através das janelas a intimidade dos vizinhos, as pequenas tragédias domésticas, os amores furtivos, os breves instantes de felicidade, essas histórias que antes nunca ele escutou pelas escadas do edifício, e dessa maneira no momento de se arrebentar ao chocar-se no asfalto da rua tinha mudado completamente a sua visão de mundo, e tinha chegado à conclusão de que aquela vida que naquele exato momento estava deixando por uma porta tão falsa , valia a pena de ser vivida."

O drama do desiludido, de Gabriel García Márquez
(Versão: Bianca Guzzo)

sábado, 16 de agosto de 2014

Ah se você soubesse

Thiago, desenho (lápis de cor sobre papel) 2013.

Ah, se você soubesse quantas noites eu já sonhei com esses olhos, de um castanho transparente que não se vê por aí, e quantas vezes eu estremeci ao sentir você perto de mim, ah se você soubesse que quando mostra seu carinho por mim coloca poesia em tudo que faço por dias, ah se você soubesse...
Ah se você pudesse imaginar quanta inspiração é capaz de me causar, e quantas músicas eu cantaria pra você se tivesse o dom de cantar e quantos poemas eu te dedicaria se eu tivesse o dom da poesia, e quantas vezes eu te desenharia se você posasse pra mim...
Ah se você pudesse supor o quanto a sua voz no meu ouvido é capaz de despertar os meus sentidos, ah se você pudesse supor o quanto cada dia com você é mais intenso, ah se você pudesse supor...
 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Que quer dizer cativar?

Instituto de Artes - Unicamp, Fotografia, 2010.


"(...) Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho...
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela teria se envergonhado", pensou ele, "se visse isto... Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou... (...)"


Trecho extraído do livro O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.